Há muitas pessoas que utilizam um argumento fajuto para justificar as desigualdades sociais. Esse argumento baseia-se na premissa falaciosa que diz: se as pessoas são naturalmente diferentes, não há como lutar pela igualdade entre elas. Assim deixam claro que as diferenças entre os seres é que criam as desigualdades sociais.
O sociólogo português BOAVENTURA DE SOUZA SANTOS no seu "Uma concepção multicultural de direitos humanos" (1997) diz: “... nem todas as igualdes são idênticas, e nem todas as diferenças são desiguais". Assim interpreto: o fato de sermos iguais como seres, indivíduos, etnia, religião, políticos, no campo econômico, não significa que somos idênticos. Que mesmo pertencendo a um mesmo grupo temos as nossas diferenças resguardadas. Não sou idêntico a ninguém, não penso idêntico a ninguém, não tenho vida econômica idêntica a ninguém... Mas posso pertencer a um grupo de pessoas que estão num mesmo nível de igualdade.
Por outro lado, não são as diferenças que existem entre os seres que justificariam as desigualdades entre eles. Precisamos fazer um levantamento dos termos que usamos para justificar certas situações para que não cometamos erros como esses. Os significados das palavras têm uma influência muito grande sobre aquilo que dizemos. As palavras polissêmicas podem também nos levar a enganos.
Diferente não é sinônimo de desigual. Se utilizarmos essas palavras para tratar de questões sociais que envolvam o aspecto econômico podemos perceber que elas são distintas. Não são iguais, idênticas.
Então, não sou pobre porque sou pardo em comparação a alguém que é rico e branco. Essas diferenças biológicas, fisiológicas e étnicas não são justificadoras da pobreza de ninguém. Mas é um argumento muito utilizado para justificar as desigualdades e levar as pessoas a aceitarem as suas condições sociais e econômicas com submissão.
Polissemia é uma coisa interessante, mas quando usada com ardil causa mal, porque muita gente termina aceitando a sua condição sem procurar lutar para melhorar a sua vida.
Jair Feitosa
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