quinta-feira, 18 de abril de 2013

Nome de novo mamífero fóssil homenageia o Piauí e a Serra da Capivara

Piauhytherium capivarae é o nome com o qual foi batizada uma nova espécie de mamífero de grande porte descrita com base em fósseis descobertos principalmente nas imediações da Serra da Capivara, sudeste do Piauí. A descoberta foi realizada pelos pesquisadores Claude Guérin e Martine Faure, da Universidade Claude Bernard-Lyon 1, na França, que trabalham em parceria com a Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM) desde as primeiras publicações paleontológicas sobre a região, na década de 1990. A escolha do nome homenageia primeiramente o estado do Piauí (“Piauhy–“) e é terminado em “-therium” que significa fera, besta ou animal selvagem. Já a segunda parte do nome, “capivarae”, refere-se à Serra da Capivara, por ser a localidade de descoberta da maioria dos fósseis deste animal. O achado foi publicado no final do mês de março no periódico científico internacional Geodiversitas. 

Segundo os autores da publicação, este novo gigante pré-histórico está presente em nove sítios do nordeste brasileiro, sendo que os principais são a Toca do Gordo do Garrincho, no município de Coronel José Dias, as Lagoas do São Vitor e do Quari, ambas em São Raimundo Nonato, e a Lagoa dos Porcos, em São Lourenço do Piauí, todos na região do Parque Nacional Serra da Capivara. Juntos, os sítios analisados permitiram reunir mais de uma centena de restos fósseis deste novo mamífero. Entre eles destacam-se um crânio e uma mandíbula extremamente bem conservados que se mantiveram praticamente intactos (Figura 1) mesmo após terem sido soterrados por quase dois metros de sedimentos na Lagoa dos Porcos. A detalhada comparação realizada pelos pesquisadores demonstrou que o esqueleto de Piauhytherium capivarae é consideravelmente diferente do de outra espécie proximamente aparentada a ele: Toxodon platensis. As diferenças mais evidentes verificadas residem na forma de regiões específicas do crânio e dos dentes. Além disso, alguns elementos do restante do esqueleto, sobretudo os ossos dos membros (Figura 1), também apresentam consideráveis dessemelhanças em relação à espécie Toxodon platensis. Os autores argumentam ainda que os dentes de Piauhytherium capivaraediferenciam-se também de outras espécies relacionadas, como Trigodonops lopesi eMixotoxodon larensis. 

A partir das descobertas fósseis os estudiosos puderam elaborar hipóteses sobre alguns aspectos da (paleo)ecologia destes gigantes extintos. Em parte dos sítios paleontológicos analisados os cientistas encontraram indícios de que Piauhytherium capivarae e Toxodon platensis habitaram algumas localidades geográficas em comum. Este dado é bastante curioso, pois sugere que estas duas espécies de animais relativamente semelhantes competiam por recursos de um mesmo território, como água e os vegetais que constituíam sua dieta. Outro aspecto discutido é que os membros de Piauhytherium capivarae mostram que este animal, assim como proposto anteriormente por outros autores para Toxodon platensis, provavelmente teriam hábitos aquáticos, analogamente aos dos hipopótamos que vivem nos dias atuais.

A descrição desta nova espécie reforça o potencial paleontológico do nordeste brasileiro e demonstra que as pesquisas nesta região podem ser bastante frutíferas e que há muito a se explorar. O artigo que descreve esta grande descoberta é dedicado pelos autores à Dra. Niède Guidon por seus 25 anos de perseverança na busca de fósseis destes mamíferos gigantes que habitaram o território que hoje conhecemos como o estado do Piauí. Aos interessados em conferir os detalhes do trabalho científico segue a referência completa: Guérin C. & Faure M. 2013. Un nouveau Toxodontidae (Mammalia, Notoungulata) du Pléistocène supérieur du Nordeste du Brésil. Geodiversitas 35 (1): 155-205.




 FUMDHAM

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