segunda-feira, 29 de abril de 2013

Caatinga ganha visibilidade mundial e quebra preconceitos sobre sua biodiversidade



No dia 28 de abril, é comemorado o Dia Nacional da Caatinga. Instituída por decreto presidencial em 2003, a data faz alusão ao nascimento de um dos maiores ecólogos brasileiros, João de Vasconcelos Sobrinho, docente pioneiro da disciplina “Ecologia Conservacionista”, por ele instituída na Universidade Federal Rural de Pernambuco.


Vasconcelos Sobrinho mostrou ao mundo que a caatinga, “além de muito rica, constitui patrimônio biológico único no planeta”. Este bioma engloba partes dos Estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe, concentra espécimes da fauna e da flora peculiares, e exige técnicas específicas de manejo para evitar a degradação e não sucumbir à desertificação.



Caatinga ganha visibilidade mundial



Infelizmente, as condições de preservação da caatinga são entristecedoras. Depois da Mata Atlântica e do cerrado, ela é o terceiro ecossistema mais afetado pela ação humana. Cerca de 80% de sua área já sofreu algum tipo de alteração, seja pela expansão urbana, seja pela produção agrícola, seja pelo uso de técnicas não sustentáveis de manejo e extração dos recursos naturais”.


A forma irracional como se deu a exploração da caatinga, durante o período colonial, causou “danos irreparáveis” ao meio ambiente, sendo o pior deles a desertificação de grandes áreas. Por abrigar população muito numerosa, a pressão pelo uso da água é enorme, tanto para uso doméstico quanto para a agricultura. É urgente, portanto, que medidas sejam tomadas no sentido de preservar o bioma, sem que os moradores da região sejam apenados.


Urge à aprovação da Proposta de Emenda à Constituição nº 504, de 2010, que visa a assegurar a exploração dos biomas brasileiros dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente e a melhoria da qualidade de vida da população. A matéria, já aprovada no Senado, aguarda a manifestação da Câmara.



Caatinga ganha visibilidade mundial


Não queremos que a caatinga acabe! Precisamos unir forças para que ações integradas e eficientes sejam colocadas em prática. A região carece de novas unidades de preservação, da disseminação de técnicas sustentáveis de manejo florestal e de agroecologia, além de educação ambiental para seus habitantes. Todos esses pontos devem ser contemplados em políticas públicas do Governo Federal e dos Estados, especialmente os do Nordeste.

PARA SABER MAIS: 

A Caatinga é um bioma que ocupa cerca de 844 mil quilômetros quadrados, o equivalente a 11% do território do país, englobando os estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí, Sergipe e o norte de Minas Gerais, onde a ocorrência de secas resultantes de um clima semi-árido deixam a vegetação sem folhas e os troncos das árvores esbranquiçados e secos. Os tupi, deparados com uma paisagem de quilômetros e mais quilômetros de uma vegetação esbranquiçada, denominaram aquilo "mata branca", que na sua língua era a caa (mata) + tinga (branca), a Caatinga. 

É um bioma exclusivamente brasileiro, o que torna seu patrimônio biológico único no planeta. Apesar de estar localizado em área de clima semi-árido, a Caatinga apresenta grande variedade de paisagens e de biodiversidade. Muitas das suas espécies são exclusivas. 

Caatinga ganha visibilidade mundial


Abriga 178 espécies de mamíferos, 591 de aves, 177 de répteis, 79 espécies de anfíbios, 241 de peixes, 221 de abelhas e 932 espécies de plantas. É dominada por tipos de vegetação com características xerofíticas – formações vegetais secas, que compõem uma paisagem cálida e espinhosa – com estratos compostos por gramíneas, arbustos e árvores de porte baixo ou médio, caducifólias (árvores que perdem suas folhas durante parte do ano) e uma farta variedade de plantas espinhosas, entremeadas de outras espécies como as cactáceas e as bromeliáceas.

A diversidade de sua paisagem é tamanha, que permite uma distinção de ecossistemas, baseada nas diferenças de pluviometria, fertilidade e tipo de solos e relevo. Uma primeira divisão que pode ser feita é entre o agreste e o sertão. Enquanto o sertão apresenta vegetação mais rústica, o agreste é uma faixa de transição entre o interior seco e a Mata Atlântica, característica da Zona da Mata. 

Hoje, segundo dados do IBGE, cerca de 27 milhões de pessoas vivem na área original da Caatinga, grande parte dependente dos recursos da biodiversidade local para a sua sobrevivência. A extração de madeira, a agricultura de sequeiro, a monocultura da cana-de-açúcar e a pecuária nas grandes propriedades são atividades econômicas tradicionais. 

Caatinga ganha visibilidade mundial


Com isso, 80% de seus ecossistemas originais já foram alterados por processos humanos, principalmente por meio de desmatamentos e queimadas, práticas ainda comuns no preparo da terra para a agropecuária. Além de destrutivas à cobertura vegetal, prejudicam a manutenção de populações da fauna silvestre, a qualidade da água, e o equilíbrio do clima e do solo. 

Estes mesmos recursos, se conservados e explorados de forma sustentável, podem impulsionar o desenvolvimento da região. A biodiversidade da caatinga ampara diversas atividades econômicas voltadas para fins agrosilvopastoris e industriais, especialmente nos ramos farmacêutico, de cosméticos, químico e de alimentos.

Apesar disso, a Caatinga é alvo do desmatamento desenfreado, principalmente nos últimos anos, devido principalmente ao consumo de lenha nativa, explorada de forma ilegal e insustentável, para fins domésticos e indústrias. Sofre também com o sobrepastoreio e a conversão de terras para pastagens e agricultura. O desmatamento já chega a 46% da área do bioma, tendência que o governo pretende conter através da criação de unidades de conservação federais e estaduais.

Outra forma de combater a destruição da Caatinga são estudos da flora e fauna que, segundo os pesquisadores, é o menos conhecido e estudado dos biomas brasileiros. Em 2010, no primeiro monitoramento já realizado sobre ele, constatou-se que o bioma Caatinga perde por ano e de forma pulverizada uma área de sua vegetação nativa equivalente a 2 vezes a cidade de São Paulo. 
Ensaio fotográfico: ANDRÉ PESSOA

A área já desmatada equivale aos territórios dos estados do Maranhão e do Rio de Janeiro somados. Uma taxa de desmatamento equivalente à da Amazônia, embora a área total da Amazônia seja cinco vezes maior.

Como consequência desta degradação, espécies animais e vegetais já figuram na lista das espécies ameaçadas de extinção do IBAMA e do ICMBio. Por exemplo, felinos (onças e gatos selvagens), herbívoros de porte médio (veado-catingueiro e capivara), aves (ararinha azul, avoante) e abelhas nativas figuram entre os mais atingidos pela destruição do seu habitat natural e por atividades predatórias, como a caça.

Caatinga ganha visibilidade mundial
 Fonte: André Pessoa (Especial)

Portal SRN

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