segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Entrevista: Josemar Martins Pinzoh

O Professor Pinzoh revela-se em O mesmo outro




O Doutor em Educação, Josemar da Silva Martins, lança livro onde revela suas insônias, ao tempo em que rascunha os principais traços de sua inquieta produção intelectual através das letras e da poética transcendência do ser em exercício de nudez.

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Gênesis Naum de Farias
Poeta Bruxulesco e Acadêmico da Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF.
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Como Acadêmico do Departamento de Ciências Humanas (DCH III), em Juazeiro, Bahia, é Professor Adjunto da UNEB com especialização em Gestão de Sistemas Educacionais pela PUC de Minas Gerais; tem mestrado em Educação e Desenvolvimento Sustentável pela UQAC (Québec, Canadá) e doutorado em Educação pela FACED/UFBA.  Na Universidade do Estado da Bahia, o Poeta Pinzoh como é mais conhecido, está a cargo de uma importante missão: promover discussões literárias e lançar-se com o intuito de eleger as primícias culturais da sua poética transversal, na tentativa de recriar-se na idílica travessia do Poeta em desalinho impondo-se num rascunho de si para o outro.



Gênesis Naum – Por que reunir textos com idades diferentes no livro O mesmo outro? 
Josemar Martins Pinzoh – Porque é o que eu tenho para mostrar. A poesia não é minha atividade rotineira, é meu espaço de evasão. Durante muito tempo me dediquei ao trabalho acadêmico, à leitura conceitual e teórica, à escrita acadêmica. Mas sempre escrevi poemas, quando me apaixonei, quando me entusiasmei, quando me desiludi, quando me cansei, quando me indignei, quando perdi o sono. A poesia e outros formatos de escrita literária são o meu espaço de excedência, como eu digo no livro, é minha inscrição rupestre no fundo da minha caverna.  Não sou um escritor. Mas agora resolvi juntar o que eu tinha, mostrar para algumas pessoas e, com o aceno positivo da maioria delas, resolvi publicar. Por esta razão há poemas com idades muito diferentes, inclusive consta no livro o meu primeiro poema, “A Mão”, escrito em 1984, e que nunca havia sido publicado.

GNF – A expectativa está sendo interessante?

JMP – A minha expectativa não é a de que este livro vire um Best-Seller. Apenas vou mostrar o que escrevo, não estou preocupado com a critica, principalmente não estou preocupado com a critica ressentida, que sei que há muito por aí. Mas me interessa a recepção, porque isto me dirá até onde o que escrevo pode interessar e pode ser aceito como poesia. Eu sei que existem círculos literários com nomes diversos, muitas vezes restritos, que acham que você tem que pedir a benção a eles. Mas este livro não é um pedido de inscrição nesses círculos. Não estou pedindo licença ou desculpa para escrever e publicar.

GNF – A idéia do livro é importante porque procura mostrar a outra face do Poeta que adormece isento de badalações, ao tempo em que evidencia uma produção artística derivada de uma busca pessoal pela palavra escrita...

JMP – É isso. Veja, não há poesia apenas no poema. Muitas vezes um texto conceitual também tem poesia. A poesia me interessa, não apenas a que escrevo, mas a que consumo. Então o livro mostra também o que sou e o que consumo, é resultado dessa trituração daquilo que eu acesso como poesia.

GNF – Você é um Poeta que discute com freqüência os efeitos da chamada “Pós-Modernidade”. Como a Obra “O mesmo outro” dialoga com os escritos de Lacan?

JMP – Não há Lacan em meu livro – a não ser que seja inconscientemente. Sei que o livro 16 de O Seminário de Lacan chama-se “De um Outro ao Outro”. Mas eu não sou leitor assíduo de Lacan. Eu apenas folheei algumas coisas dele. Minha praia é outra. Talvez, como obra literária o meu livro O Mesmo Outro está mais próximo do livro “O Outro, O Mesmo”, de Jorge Luis Borges, uma vez que este livro de Borges é de poesia, mas Borges se notabilizou como escritor de prosa e não de poesia. Por esta razão talvez esteja mais próximo deste. Mas não apenas pelo titulo: é que em “O Outro, O Mesmo” Borges também fala de si, da cidade que lhe habita, Buenos Aires.  No fundo os poetas falam muito de si mesmos. Mesmo os vários heterônimos de Fernando Pessoa ainda são Fernando Pessoa. Em relação à “Pós-Modernidade” há apenas um poema que entra neste tema, mas passa rápido. Há outros que talvez encenem um pouco este tempo turvo, fractal ou “fracticídico”. Mas eu acho que, no geral os poemas estão próximos da poesia moderna. A minha discussão da pós-modernidade eu exerço mais no campo conceitual, mas claro que isso cruza o campo da criação poética.

GNF – Por que trabalhar com o fenômeno da poesia quando a falência dos valores sociais deforma uma geração inteira atingidos pelo consumo desenfreado e pela banalização da cultura nas cidades?

JMP – Talvez por isto mesmo! Plantar poesia na bagunça do dia. Talvez seja um modo de resistência. Mas a poesia não casa bem com esses compromissos, sob risco de virar mero engajamento. As cidades em geral são sem poesia, constituídas de todos os tipos de iniqüidades, entre elas o lixo, o fícus e a fuleiragem. Um dos poemas expõe isso. Mas eu procuro levar a poesia para outro lugar, onde ainda podemos, talvez, saborear aquilo que a palavra pode oferecer, em seu turbilhão cores, sabores e avessos.

GNF – Que importância tem a poesia na sua formação?

JMP – Eu sempre li poesia, embora pouco. Confesso que durante muito tempo li mais livros conceituais. Tampouco li os considerados clássicos, que todo mundo vive estufando a boca para dizer que leu. Eu li poetas nem tão conhecidos assim como Alex Polari, Ledusha, Eduardo Alves da Costa, e li Drummond, Vinícius, Leminski, o próprio Borges, Ferreira Gullar. Li também os poetas mais próximos, Pedro Raimundo, Joseph Bandeira, Ângelo Roncalli, Expeditinho, Lupeu.

GNF – Qual a principal abordagem do livro “O mesmo outro”?

JMP – Não há uma abordagem. É um livro de poesias, com temas variados, formatos variados, motivações variadas.

GNF – Quais as características e particularidades de sua Obra. Fale de suas influências, amigos, parceiros e projetos para o futuro...

JMP – Se você ler O Mesmo Outro você vai me ler. Vai entrar em mim, de certo modo, talvez para encontrar um outro que você ainda não conhecia. Esta é uma característica. As influências são essas que eu já mencionei na resposta anterior.

GNF – Qual a proposta do seu trabalho em “O mesmo outro”? Comente a relação existente com a vida acadêmica, portanto, os significados deste enredo nos caminhos da descoberta para re-significar sua existência?

JMP – A proposta do trabalho é simplesmente mostrar o que eu escrevo. Não há uma relação direta com a minha vida acadêmica, é outra coisa, outro trabalho, outra viagem. Como eu disse é meu espaço de evasão e de excedência. Vou continuar fazendo o meu trabalho na academia e vou continuar escrevendo as minhas poesias sem que ninguém me mande ou me peça relatórios disso. São coisas diferentes. Elas podem até se encontrar, podem se cruzar, mas são coisas diferentes.

GNF – Qual a metodologia usada para a construção desses enredos poéticos? Se é que existe uma metodologia para o trabalho poético. Quem são seus heróis?

JMP – Não há nem método nem heróis.

GNF – Quais os maiores desafios ao se pensar em publicar um livro? É preciso prevalecer, sobretudo com a fluência da sensibilidade?

JMP – O primeiro desafio é, antes de tudo, ter o que publicar. Ter um trabalho escrito que você ache que vale a pena publicar. Ou outro desafio é encontrar onde publicar, ou seja, uma editora. Aqui nós não temos editoras nem know-how. Eu quis fazer uma publicação com uma padronização que eu considero razoável, com um papel edequado para o miolo, com um acabamento razoável para a capa, com creditação adequada, com ISBN, depósito legal na Biblioteca Nacional, com opção de inclusão em catálogo para venda pela internet. Isso você não acha por aqui. Eu tive que buscar isso em São Paulo. O último desafio é decidir se você banca a publicação ou se você contará com um editor. São esses os desafios!

GNF – O que você aborda no livro que dá sentido ao reconhecimento do eu e do outro em O mesmo outro? O que essa relação representa na sua poesia?

JMP – Acho que, muito longe desta pretensão de explicar qualquer coisa, ou de dar reconhecimento de nada, o livro chama O Mesmo Outro porque expõe, por um lado, um trabalho que muita gente que me conhece não sabe que eu faço, e por outro lado porque, este que se mostra nos poemas, também está em processo de permanente transformação. Por isso é o mesmo, mas é, ao mesmo tempo, outro.

GNF – As Universidades valorizam, de forma adequada os escritores locais?

JMP – Nem sempre – inclusive porque nem sempre os escritores locais oferecem à Universidade as suas obras, ou quando oferecem, não é com a qualidade que esperamos. Ou então é porque não interessa mesmo. Eu não escrevi este livro para a Universidade. Não acho que O Mesmo Outro interessa à Universidade. A não ser daqui a uns 200 anos, caso haja algum estudante curioso que se dedique a uma espécie de arqueologia da poesia e encontre lá, soterrado, o livro em forma de fóssil. Eu não escrevi este livro para a Universidade. Se ela se interessar, menos mal. Se algum gestor público quiser colocá-lo nas prateleiras de suas bibliotecas, menos mal. Vai ser ótimo! Mas eu o escrevi sem essas pretensões.

GNF – “O mesmo outro é, antes um trabalho de desobrigação...” O que representa esse misterioso mundo da matéria poética que se faz escrito, diante da sua busca sempre e em permanente estado de transcendência?

JMP – Quando eu digo que é um trabalho de desobrigação, estou dizendo que é algo que eu precisava mostrar, mas isso não é um trabalho de obrigação, é de desobrigação. Como diria Jánio Quadros, “fi-lo porque qui-lo”.

GNF – Você já passou por situação idêntica? Isto é, já duvidou em algum momento da veracidade de sua existência?

JMP – Eu sempre pareci um maluquinho, mas eu sempre fui muito na linha. Sempre vivi nessa fronteira entre o instituído e o instituinte, entre o legal e o ilícito, entre o mocinho e o bandido. Esses são meus outros. Mas eu não cheguei ainda a este estágio de loucura de duvidar da minha própria existência. Não tenho tempo pra isso.

GNF – Que mundo é esse? O mundo da desconstrução, da reflexão, da síntese... Por que as descobertas continuam presas dentro de cada ser humano, bastando que o mesmo simplifique sua busca existencial, canalizando-a para a objetividade, para a luz, para a verdade, quebrando assim o medo do desconhecido?

JMP – Não sei se estou à altura  do que você solicita nesta pergunta. Para mim o mundo é cada vez mais a aceleração da frase de Caetano que diz que “aqui tudo parece que é ainda construção e já é ruína”.  Agora eu não sei como fazer para simplificar a busca existencial de cada um, tampouco sei como fazer para liberar as descobertas que estão presas dentro de cada um. Tem gente que busca isso no divã. Tem gente que procura o padre e se confessa. Tem gente que escreve diários íntimos. Tem gente que escreve poesia, tem gente que faz da poesia uma musica. Tem gente que se droga.  Tem gente que se mata. Entre as minhas opções está a poesia.

GNF – O que nos liberta nesse mundo?

JMP – Como ia dizendo... o advogado, o psicólogo, o padre, a policia, a droga, o sexo, a leitura, a musica, a criação... Depende de qual é a sua prisão.

GNF – No mundo dos “ciborgues” será preciso repensar a condição do ser humano nesta globalidade de situações que o envolve e o exclui. Como pensar o Eu com o Mundo?

JMP – Acho que depende o tipo de atrito do seu Eu com o mundo.

GNF – Você acredita que a cultura pode salvar os jovens desse marasmo e projetá-los para outro universo?

JMP – A cultura é uma palavra-armadilha. Tanto liberta como aprisiona. Este marasmo que você fala é também um marasmo na cultura e da cultura. A cultura de massa também é cultura. O consumo é uma forma de cultura, das mercadorias, do fetiche. Acho que, neste sentido, é preciso oferecer outras possibilidades de expressão. Para salvar eu não sei, mas para ter opções de escolha. É preciso ainda investir numa educação dos sentidos. Por exemplo, falando da poesia, tem gente que só consegue ler poesia “água-com-açúcar” ou “pensamento de FM”, essas traduções idiotas das músicas internacionais ou essas babaquices da estupidez romântica. E por que só conseguem entender isso? Porque só tem acesso a isso. Por não temos biblioteca, cultura de leitura, somos ainda uma população iletrada. Não sei se isso salva ninguém de nada, mas prefiro acreditar que estaríamos melhor se houvesse um lastro mais largo na formação das pessoas, para que elas fossem capazes, inclusive, de ler poesia.

Entrevistado por: Gênesis Naum de Farias
Poeta Bruxulesco e Acadêmico da Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF.

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