Muitos acordaram junto ao sol, e tomaram seu café ao som das mesmas músicas que embalaram a queda da ditadura com os “Caras Pintadas” e tantos outros protestos que embalam nossa história brasileira. Antes das 8:00h já estávamos reunidos no ponto de partida. Ainda éramos poucos mas logo seríamos muitos!!!
Pintamos nossos rostos, estampamos e vestimos nossos “multiformes”, erguemos os protestos carimbados nos cartazes e faixas, marchando em nosso próprio ritmo.
Saímos da praça do abrigo, subimos a Rua Prof. João Menezes circundando o fórum da cidade e descendo a Rua Coronel José Dias em direção à Praça do Relógio, palco de nossas reuniões onde o nome do movimento ganhou sentido em menção ao “despertar”.
Muitos gritos pediam e exigiam a presença dos vereadores, dos secretários e do prefeito, que infelizmente não deram suas caras pra dialogar com a população, enquanto isso se avistou um jatinho passar ao alto sobre nossas cabeças, provavelmente era governador do estado.
O protesto foi totalmente organizado, a prefeitura e a polícia receberam ofício escrito e protocolado, avisando de nosso protesto pacífico. Parte da população foi avisada e convidada através das rádios Cultura FM, Rádio Alternativa, Rádio Capivara e nos portais: Portal SRN e saoraimundo.com. As escolas foram avisadas pessoalmente e no Facebook foi criado o evento do manifesto, além do boca-a-boca e dos cartazes espalhados na cidade. O carro de som nos acompanhou ecoando nossos gritos e tocando as músicas que cantávamos...
Tínhamos uma comissão de divulgação além de nossa própria comissão de imprensa a qual eu fazia parte, o objetivo dessa, além do próprio registro do manifesto era munirmo-nos de registros, evitando qualquer possível manipulação de mídias locais, estaduais e nacionais. Aliás, o grande acesso das massas às máquinas que registram imagens aliada a internet é nossa grande arma.
Em meio a tantos rostos pintados se viam crianças, adultos e idosos, muitos uniformes escolares estavam presentes. Um casal de deficiêncientes visuais tateava suas bengalas pelas ruas e calçadas despreparadas para a inclusão de suas necessidades. Eles também não diziam uma palavra, nem carregam cartazes, apenas se concentravam em desviar dos inúmeros obstáculos em seu caminho. Mas eles não precisavam falar, sua atitude dizia muito, e dizia alto.
A população que estava atarefada nas feiras, comércios e bancos eram um misto de olhares de espanto e de apoio, e vontade de participar, talvez inibidos pelo tradicionalismo conservador. Conversei com um senhor de boné que subiu ao banco da Praça do Relógio para melhor ver a numerosa marcha. Perguntei o que ele achava do movimento. Ele me disse que estava apenas olhando. Eu insisti, e perguntei se o protesto estava atrapalhando a cidade. Em resposta, a mesma frase: “-To só olhando”.
Chegamos a Praça do Relógio. Protegendo a porta entrada da Prefeitura, o Grupo Especial da Polícia Militar altamente armada bloqueava-a, mas os mesmos se mostraram tranquilos e solícitos, até mesmo posando ao lado da bandeira nacional dos civis.
Pude fotografar muitos sorrisos e abraços de amigos que se encontravam, se esbarram durante o caminhar. Rodas de ciranda alegres dançavam nas ruas frente à prefeitura. Dando as mãos e fazendo e cordões humanos num ato altamente simbólico a população civil sanraimundense “abraçou” a prefeitura municipal, num sentido de ocupação de uma estrutura/espaço que é sua em direito constitucional.
O movimento Desperta SRN! teve e tem dois principais objetivos:
Um é exigir e lutar por condições básicas garantidas por nossa Constituição, as exigências se direcionam a competência dos três poderes: Legislativo, Judiciário e Executivo (Presidenta). Aí se inclui todas as demandas civis, tanto no âmbito nacional quanto municipal.
O segundo e talvez até mais importante, pois sem este não temos o primeiro, é que a população de São Raimundo Nonato “desperte” para a democracia e para consciência política. É necessário “despertar” não apenas para ir trabalhar todos os dias, mas também despertar para lutar por seus direitos. Nós sabemos de nossas obrigações, mas não sabemos de nossos direitos. Nós não estamos lutando pra criar direitos, todos já estão muito bem estabelecidos, nossa constituição é lindíssima e nossas leis são muito bem feitas. Pena que quem é eleito para respeitá-las e defendê-las apenas feri nossos cidadãos, com negligência e ignorância, até mesmo criando leis que ferem a constituição.
Os protestos foram coloridos e sorridentes, pacífico e harmônico. As únicas exaltações foram os gritos que há muito pareciam calados, pois a população gritou e cantou com tanta força que minhas palavras não poderão dar noção ao leitor. Algumas bombinhas de festas juninas foram soltas, pois haviam barracas desses fogos festivos na Praça do Relógio. Ao microfone nós pedimos que não as soltassem e a polícia logo se espalhou e elas pararam. Eu flagrei com minha câmera uma menina que soltou algumas das bombas. Era uma menina que se embrulhava com a bandeira do Brasil, ela sorria e era apoiada por suas amigas de mesma idade (talvez uns 14 anos) não parecia ter muita consciência do que estava fazendo ou do que estava acontecendo ao seu redor....infelizmente.
Também pude conversar com um jovem (de uns 12 ou 13 anos) que aproveitou que alguns de nós da imprensa tínhamos subido na parede que circunda o palanque (Praça do Relógio), e também subiu. Perguntei se ele sabia o porquê de todo o movimento, este esboçou um sorriso ansioso que parecia saber a resposta, mas não soube explicar. Ao conversar mais e tentar explicar nossos objetivos, pareceu fazer sentido para ele, que completou dizendo:
“-É pra mudar!”
Ele acertou em cheio! Provavelmente nunca ouviu falar da Constituição na escola assim como eu em minha vida escolar. Mas ele guarda em si um entendimento que as coisas como estão não podem ser justas. Gostaria que essa demanda se tornasse Nacional. Precisamos de educação política nos diversos níveis do Ensino. Precisamos entender o que realmente é Democracia e aprender a ler de verdade para compreender nossa bela Constituição. E assim defender nosso patrimônio, nosso direito de ser brasileiro.
Diego do Rêgo Monteiro, Técnico em Informática, Fotógrafo e graduando em Arqueologia e Preservação Patrimonial.
Aposto que o movimento não foi só isso - um movimento belíssimo, por sinal. Sugiro a outros componentes do movimento que escrevam um texto mais completo do protesto. A narrativa que acabo de ler está muito bonita, bem redigida e atrativa. Mas o leitor - pelo menos comigo foi assim - espera mais. Pensei que fosse me informar sobre o protesto em si, o que fez e como, o que de fato buscavam e a quem se dirigiam... Enfim, fiquei com um gostinho de... (quero mais rsrsrs). Fiquei com inveja de vocês porque não fui. Peço que publiquem um texto que fale tudo, até para que o público não pense que tudo foi apenas uma brincadeira. Desculpe-me o autor, não quis ser grosso, apenas colaborar para que a população tenha uma boa imagem do "Desperta São Raimundo".
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