Gênesis Naum de Farias/Poeta Bruxulesco e Professor
Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF.
e-mail: genesisnaumfarias@gmail.com
Quando pensamos em Educação no Brasil logo somos transportados a legitima noção de que os saberes docente refletem a palavra-chave que norteou todo o pensamento do Educador Paulo Freire: Transformação. Para entender-la é preciso primeiro saber o que foi feito da formação dos educadores no período Pós–Ditadura Militar; que tipo de profissionais se formou quando a devassa do terror político abriu suas portas e arquivos para uma democracia tardia, quando os interesses já não eram transformar a nação nem consolidar nenhum estado de direito, mas ortogar a infração e a afirmação de que um país que nasce colonizado morre colonizado.
A Educação vai mal porque os educadores nascem doentes e são frutos de uma Universidade indolente, perseguidora, frustrada, carrasca, intolerante e quase totalmente improducente, onde pesquisa, ensino e extensão são na verdade um delírio utópico de poucos, comprometidos com outros processos; onde se excluem, cotidianamente, por falta de espaço em instâncias colegiadas, estudantes e professores comprometidos diante da autoridade doutoral da estabilidade profissional do funcionalismo público.
Que estabilidade é essa que se propaga como direito adquirido e não se projeta para consolidar os processos de ensino-apredizagem quando não há estabilidade emocional nem segurança para se trabalhar, estudar e vivenciar a Universidade perante a tirania doutrinal de positivistas que na era da Pós-modernidade, profissionais de quase todos os campos do saber se dobraram aos financiamentos das agencias de fomento de pesquisa? Estas por sua vez enquadram os saberes e atrela o domínio pela pesquisa a instituições sem autonomia política para fazer o enfrentamento necessário através da formação crítica nas salas de aula. Os interesses estão sempre na ordem do dia.
Já se passaram quarenta anos do fim da Ditadura Militar e nesta democracia tardia o que se tem a comemorar? O fim da neutralidade política com engajamento social e o surgimento de uma Educação serviu? A Educação que temos é indulgente, perversa e intolerante. Que processo formativo é esse que amarra os professores aos desmandos de instituições como a CAPES e tantas outras, que autorizam e desautorizam quando querem, doutrinariamente, os futuros pesquisadores, a se curvarem ao chamado terceiro setor, ao consumo e ao desejo de vigilância e punição quando sua autoridade doutoral refletir sua incompetência moral e institucional para fazer o trabalho docente gerir desenvolvimento.
A Universidade Brasileira vai resistir a todos esses desmandos porque o termo requer pensar-la como uma instituição formadora de conhecimento, mas seus professores não passam de formadores de mão de obra que de “capacitados” passam a ser reprodutores de um pensamento terceiro mundista, reféns da moral social de um tempo onde a democracia de democrática só possui o termo. O estado de direito na sua concepção institucional adverte que todo cidadão é portador de liberdade para ir e vir, porém esse direito lhe é negado quando apenas cidadãos comuns podem pagar seus impostos sem usufruir do capital simbólico que emana da relação desses direitos e deveres.
No momento em que pararmos para pensar a Educação como elo de transformação social venceremos o desanimo e daremos uma resposta mais bem pronta e mais elaborada aos problemas educacionais porque seremos revestidos de direitos e deveres não amplamente obedecidos nem regularmente cumpridos nesta Nação onde a Carta Magna impele liberdade, mas repele cidadania para todos.
O que dizer de educadores empossados no emprego público que não cumprem com seus deveres de cidadãos, que lutam apenas por salários e mais qualidade de vida, quando não cumprem seus deveres como profissionais nem cidadãos e que trocam a obediência pública pela subserviência privada? O que dizer de professores que recebem como dedicação exclusiva no setor público que não atendem a real finalidade de suas obrigações e recebem as benesses do setor privado quando deveriam estar produzindo conhecimento na esfera pública?
Falta mais fiscalização do Poder Público quando esses desmandos institucionais criam poderes paralelos entre as classes sociais para forjar discursos de qualidade educacional e institucional sem o ditame lógico do discurso público que autoriza o intelectual a pensar a sociedade e buscar transformá-la nos seus diversos tipos de atividades laborais. De quem é a culpa? Quem paga a conta? Quem salvará o povo brasileiro?
A Ditadura Militar destruiu os anseios de muitos dos grandes pensadores da Educação Brasileira tais como Florestan Fernandes, Paulo Freire, Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro e tantos outros, para produzir seu próprio biótipo de intelectual tecnocrata. Apesar de políticas públicas como as Cotas Sociais e o Reuni terem sido pensadas para dar uma cara nova ao que se pode chamar de “reforma educacional” o profissional que hoje temos atuando e se formando nas universidades brasileiras atende apenas a uma lógica de mercado que contempla apenas os ranços tardios de nossa relação com a colônia e, como colonizados reproduzimos apenas o discurso do vencedor, sem o preparo crítico para ressignificar a luta por qualidade de vida e de trabalho.
Porém quem manda nos órgãos de fomento e de pesquisa são pessoas que formam opinião e que nasceram nas docas da Ditadura e engendram políticas institucionais frias e sem nenhum alento social para ampliar o desenvolvimento crítico, porque o lance é ter acesso a espaços onde o financiamento fale mais alto podendo referendar toda a impotência de pesquisadores que escrevem apenas o que lhes mandam ou apenas aquilo que está na ordem dos acontecimentos e que reflita a episteme da moda, ou o axioma paradigmático que o jogo dominante determina a todos, sem a responsabilidade política com causas maiores. O negócio é rentável, usa-se o CNPJ das universidades públicas para o financiamento público de projetos que atendem a uma finalidade engrandecedora: formar cartéis acadêmicos e propagar o poder de quem manda a quem se submete a obedecer; ou seja, empresas privadas são criadas por entre os interesses da Universidade com um único objetivo, fraudar ou negligenciar os desmandos dos Senhores da Ciência Moderna.
Quando professores se determinam a uma paralisação que prenuncia uma greve, logo pensamos em atraso nas atividades escolares e acadêmicas, mas poderíamos perguntar a esta classe de funcionários públicos o que produzem na academias? O que se produz no ensino superior? O que se processa nas universidades se não saberes reproducentes e sem o valor que lhe é necessário quando transformar mentes passivas em indivíduos críticos não atende a um papel reformador e emancipador?
A Universidade Brasileira esta em crise porque insiste em manter cartéis econômicos ligados a partidos políticos aparelhados por intelectuais desarticulados dos princípios básicos da Educação, que não sabem realmente o papel que tem diante dos fatos e dos acontecimentos. O resultado de acordos políticos desinteressados em questões maiores é que teremos num futuro bem próximo uma massa de manobra servindo a um sistema patronal sem se ater aos direitos que tem no amplo papel que exercem na sociedade civil. O escritor Heinrich Mann nos diria que “um mundo que não causa dor não incita à autodefesa. Palavras e frases também são autodefesa...”. O que dizer deste universo de coisas se não sabemos nominá-los nem criticá-los.
Portanto, é justo pensar a Universidade Brasileira como o local que interage com o global e intervém para mudar o rumo dos acontecimentos locais, porém não é justo pensá-la apenas como um órgão regulador de saberes e poderes; somos o que outrora Paulo Freire pensava: um bolsão de miséria que não consegue falar de suas próprias mediações, isto porque não conseguimos mediar nem nossas próprias relações profissionais com respeito, quando é dever de todo cidadão ter acesso aos bens simbólicos para poder gozar do livre pensamento para compreender as conseqüências tardias dos ditames que engendram politicamente suas vidas através do conhecimento.
Para se ter uma sobrevivência igual diante das relações que se criam pelos poderes paralelos dos formadores midiáticos da Educação é preciso parar para pensar politicamente num currículo proximal que atenda a questões reais deixando de lado questões periféricas e de anseios pessoais para referir-se ao que não é público nem pretende ser público.
Hoje se tem a idéia de que tudo se faz tarde para arquitetarmos outra revolução pela Educação, mas ao acordarmos para questões como a que se coloca neste instante como reflexão, o cidadão já está fazendo a sua parte para melhorar a cultura do que é público no mundo das polarizações e dos saberes dominados por doutores sem a autoridade doutoral. Lulu Santos nos adverte em certa canção: “(...) se amanhã não for nada disto caberá só a mim esquecer... Portanto, nos dizeres de Umberto Eco poderemos traçar outras reflexões para a própria cultura universitária, quando a mesma já não discute a realidade porque “(...) o caminho da ciência é difícil e é difícil distinguir nele o bem e o mal. E freqüentemente os sábios dos novos tempos são apenas anões em cima dos ombros de outros anões (...)”. (1986, p.111). Viva o alto grau de protecionismo do intelectual brasileiro!
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