Criança de menos de um ano foi a primeira ossada a ser encontrada (Foto: Pedro Santiago/G1)
Com 129 mil hectares, o Parque Nacional da Serra da Capivara no Piauí reúne a maior quantidade de sítios pré-históricos do continente americano e o maior número de pinturas rupestres do mundo. Recentemente, pesquisadores da Fundação Museu do Homem Americano (Fumdham) encontraram um cemitério com 12 ossadas humanas com cerca de 3.500 anos em um dos cerca de 800 sítios arqueológicos do Parque, distante 540 quilômetros de Teresina. Os corpos foram enterrados em urnas funerárias e sepulturas simples, sendo que a maioria das ossadas pertence a crianças, segundo a arqueóloga Tânia Santana.
O início da descoberta se deu em março de 2013 quando um grupo de arqueólogos estava preparando mais 10 sítios para visitação, quando se depararam com indícios da primeira ossada, a de um menino que tinha aproximadamente um ano quando foi enterrado.
Arqueólogas Adriana e Tânia fazem parte da equipe que achou 12 sepulturas (Foto: Pedro Santiago/G1)
“Deixamos a Toca do Gongo 3 (local onde foi achado o cemitério) por último já imaginando que lá encontraríamos algo mais interessante, visto que o trabalho realizado na década de 1970 na Gongo 1 já tinha histórico de enterrados. Primeiro encontramos o esqueleto de uma criança e depois mais quatro ossadas. Fizemos uma escavação em laboratório e agora estamos com os restos desse menino. Terminado ele, ainda temos mais seis para escavar”, relatou Tânia Santana.
Detalhe do crânio da criança enterrada há cerca de 3.500 anos (Foto: Pedro Santiago/G1)
As outras seis ossadas estão em urnas funerárias e serão trabalhadas em laboratório. A expectativa é encontrar mais enterramentos na Gongo 3. “Encontramos 12 sepulturas em uma área de 11 metros de comprimento por quatro metros de largura. Ainda temos 39 metros para serem explorados e acredito que vamos achar mais. Paramos a escavação lá por enquanto, pois já temos muita coisa para trabalhar em laboratório”, afirmou a arqueóloga dizendo ainda que o trabalho em laboratório deve durar pelo menos mais seis meses.
A descoberta desse cemitério gera repercussão, pois são poucos os registros de sepulturas na Serra da Capivara. Com o novo material coletado, os pesquisadores poderão realizar trabalhos comparativos com dados colhidos em outros sítios arqueológicos e assim descobrir se aquele grupo enterrado é o mesmo que viveu em outras regiões do parque.
Arqueólogos trabalham na escavação de criança enterrada há cerca de 3.500 anos (Foto: Pedro Santiago/G1)
“Poderemos saber a cultura deles, o que eles produziam e ferramentas que usavam. Vamos entender também suas práticas funerárias porque uns usavam urnas e outros não. Além disso, vamos comparar os dados com outros grupos e saber quanto tempo essa prática (rito fúnebre) perdurou”, explicou a arqueóloga Adriana Almeida.
Detalhe do pé da ossada da criança quando foi enterrada (Foto: Pedro Santiago/G1)
Além das ossadas, foram encontrados vários materiais líticos, rochas e minerais que podem ter sido usados de diversas maneiras, que foram coletados e catalogados no laboratório da Fumdham.
“Fazemos um estudo prévio no qual catalogamos as características do material e colocamos todas as informações em um banco de dados. Depois os especialistas irão definir do que se tratam as rochas encontradas. Os objetos no Gongo 3 são variados e podem ser de machadinhas, pedras para raspar, cortar, bater etc”, conta Annelise Silva Neves, coordenadora do Laboratório de materiais líticos da fundação.
Mais antigos habitantes
O Parque Nacional da Serra da Capivara está em uma área espalhada pelos municípios de Canto do Buriti, Coronel José Dias, São João do Piauí e, principalmente, São Raimundo Nonato. Estudos realizados desde a década de 1970 confirmaram que a presença do homem na Serra da Capivara data de 50 mil anos, os mais antigos registros descobertos na América até o momento.
Sua utilidade podia ser das mais diversas, tais como machadinhos, pontas de lança, moedores de alimento, lascas para corte de carne, couro etc. O material servia até para confecção de símbolos.
Com informações do G1